*Artigo de Opinião*
A
forma de se fazer campanhas eleitorais em Cabo Verde é bastante peculiar, mas
será difícil ou quase impossível de mudá-la. Várias são as razões que impedem que
essa mudança ocorra, mas eu vou cá enumerar apenas três:
1. O povo gosta de
espetáculos
É certo e sabido como os
espetáculos mexem com a psique humana; se não houver barulho, é porque não se está
vivo e se não se estiver vivo não serve.
Em todas as campanhas, pelo
menos ca em Santiago, os políticos medem forças com a quantidade de aparatos
que conseguem aglomerar durante os dias de Campanha (carros de som,
indumentarias, bandeiras, balões coloridos e outras parafernálias
carnavalescas).
Isto afeta e de que maneira o
comportamento das pessoas e sua atitude com relação às suas decisões. Quanto
maior é o aparato, mais majestoso parece. Como dizia alguém, tem que se fazer
visível para se fazer notado e admirado.
O barulho e a confusão passam a
mensagem de ganhador, arrasta multidões e serve de chamariz, pois as pessoas
mesmo que não tendo convicções fortes, não querem estar do lado de um perdedor.
A ausência disso demonstra
fraqueza, fragilidade e inoperância da máquina politica por parte do grupo.
O povo prefere isso ás vezes
muito mais do que ouvir propostas concretas (espero que isto mude).
2. Campanha reduz
as distâncias entre o poder e povo
Durante as campanhas
eleitorais, existe uma linha ténue entre os governantes e povo. A caça aos
votos obriga a que os políticos desçam dos seus pedestais e percorram achadas e
cutelos para mostrar ao seu eleitorado de que ele conta e que contam com ele.
Por seu lado o povo se deleita
com o facto de pertencer ao grupo de detentores do poder e por alguns dias
fingir que esta no comando da situação. Chantageia, faz jogo duplo, exige, dá “ramoki”,
extorque promessas e renova votos de fidelidade a uma determinada causa.
3. Campanha traz
desafogo
Durante as campanhas abre-se os
cordões à bolsa. Há mais sensibilidade social, paga-se copitos, almoços
jantares e há quem mesmo consegue arrecadar mais uns troquitos pois há mais
movimentação de dinheiro.
Assim, campanha cumpre um papel
social de permitir que muitas panelas sejam postas ao lume e que haja algum
refrigério financeiro para quem o dinheiro é uma raridade.
Pelas razões acima apontadas e
outras que não foram ca mencionadas, achamos quase impossível, pelo menos a
médio prazo, uma campanha com carater diferente.
TENPU PINHA ARENEGU NONA; TENPU NONA ARENEGU PINHA
No
final de cada campanha eleitoral assiste-se a acusações mútuas de parte a parte
sobre compra de votos e consciência, corrupção, pressão, utilização indevida da
coisa pública, etc.
Os vencidos sempre argumentam
que foram roubados, que as eleições não foram justas e livres, que houve
macumba, interferência do diabo entre outras coisas macabras.
Os vencedores aplaudem, acham
que o povo foi soberano e fez a escolha acertada.
É interessante ver como as
opiniões se mudam consoante os interesses: se eu ganhar, não houve falcatruas,
se for o meu adversário a ganhar é porque algo esteja errado.
Mais interessante ainda é ver
que esta postura não é apenas apanágio daqueles que desconhecem os meandros da
política e são destituídos das mais elementares regras do jogo democrático. É
uma doença cronica que afeta os políticos da classe alta a começar pelos seus
dirigentes.
É só atentarmos nos discursos
protagonizados pelos líderes dos dois 2 maiores partidos da oposição: acusações
mútuas e agressões verbais; do lado do ganhador, rasgados elogios ao povo e do
lado do vencido impropérios.
O apelo ao respeito pelas
regras democráticas, pelo civismo, seriedade e outros atributos são esquecidos
no calor dos resultados, transformando-se os mesmos em gladiadores (passo a
expressão) cada um tentando dar o golpe final no seu adversário.
Todos nos gabamos dos avanços
que a democracia em Cabo Verde ganhou nos últimos anos; concordo plenamente que
de 1990 para cá demos um passo enorme no campo politico-democrático. No entanto
é bastante assustador, os contornos que essa democracia vai tomando concernente
ao respeito pelos outros e pela diferença.
Esta atitude de intolerância
fomentada pelos líderes políticos instalada e institucionalizada e é contagiante.
Não raro ouvimos comentários do tipo: “Os do PAICV não prestam, são isso,
aquilo e aquele outro. Ou “os do MPD são todos arruaceiros, isso,
aquilo e quele outro”
E assim no seio das populações
vão se criando fossos e distâncias entre pessoas, baseados nas opções
políticas. E as pessoas reúnem-se, convivem e fazem amizades não baseadas em
sentimentos que nutrem umas pelas outras mas em opções partidárias.
Urge mudar esse quadro para que
se crie um ambiente mais saudável e permitir que as pessoas tenham mais
maturidade politica e decidam em consciência. Mas isso deve começar de cima, os
líderes têm que mostrar hombridade, civismo e maturidade pois, são role
models e quer queiram quer não, influenciam multidões com as suas palavras
e atitudes. Os exemplos vêm de cima.
Como diz a minha mãe, “tenpu
pinha arenegu nona; tenpu nona arenegu pinha”, ou seja, se estiveres do
meu lado, prestas, se não estiveres, és um zero à esquerda.
Á guisa de remate, queria
realçar o impacto negativo que isso acarreta a nível das massas que para além
de deixarem de acreditar nos políticos têm uma atitude pouco abonatória para
quem já desempenhou ou desempenha cargos de importância a nível do Governo e do
Estado.
Elsa Furtado
Brilhante observação à cerca das nossas campanhas. Duas ou três valentes semanas de "koba kunpanheru" enrolado no amnésico capote dos 4 anos passados e, o pobre povo, sob o peso de um ou dois sacos de cimento e uns barulhitos do arrastar de verguinhas, tudo passa tudo "dja kaba".
ResponderEliminarOs políticos acusam-se mutuamente, mas nenhum leva "kel-otu" ao tribunal.
Temos memória de um simples rato.
Excelente observação de quem conhece bem a nossa realidade, Elsa. Mas eu sou daqueles que acredita ainda na possibilidade de mudança. Esse povo, que como dissestes, chantageiam os políticos na época de campanha, já não contenta com 1 ou 2 sacos de cimento como diz Armindo Tavares. Quer mais do que isso, quer propostas concretas, exequíveis e políticos sérios comprometidos com seu eleitorado. Eleitorado esse que consegue identificar as necessidades do seu povoado, da sua zona mas faltando-lhe talvez, o pensamento colectivo. Possível de ser incutido desde que haja vontade para tal. Não é fácil é claro mas como disseste, o exemplo vem de cima
ResponderEliminarAdorei! Informações boas (Sintetizadas e actualizadas).
ResponderEliminarParabens!
Espero q/ os actuais políticos e os q/ pensam ser no futurao, leiam esse seu artigo. Há q/ mudar um dia essa atitude. Um bom reparo, adorei, força "Elsa"
ResponderEliminarExcelente!
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