sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A vida é aquilo que escolhemos

*Artigo de Opinião*

“A vida é a soma de todas as suas escolhas." – Albert Camus
Muito já se falou sobre a criminalidade e a delinquência juvenil que devassam a nossa sociedade em geral e a Praia e Mindelo em particular.

Muitos culpados já se procuraram, com acusações lá e cá, cada um achando que o outro é que é o mais o responsável.

Já se tirou dividendos sociais, já se usou isso como arma de arremesso politico, muitas pessoas já pagaram por isso.

Uns há que pensam que o problema se resolve na família; outros com punição; outros com melhoria das condições sociais; há os ainda que pensam que é a religião (ou a falta de valores religiosos) entre outros paliativos, cada um menos eficaz que o outro.

Mas ninguém tem a coragem de em momento algum, também responsabilizar os próprios autores pelos seus actos. O que se pretende na maioria das vezes é desresponsabilizá-los e apresenta-los como anjinhos a quem foram extorquidos os seus direitos sociais e submetidos a um sacrifício à força.

Ai de mim querer ser zarolha e imputar as responsabilidades apenas a um lado. Não, mas também não penso que possam sair ilesos desse emaranhado de questões que eles mesmos protagonizam, deixando para trás um rastro de destruição a nível económico, financeiro, psicológico, e social.

Penso que o que se passa em Cabo Verde tem a ver com uma questão de escolha. E vou explicar.

Não faz sentido nenhum a um jovem de 17 anos se considerar marginalizado. Como é possível se sentir marginalizado perante algo que não se tem idade de se conseguir? Sente-se marginalizado, mas pode perfeitamente formar grupos, atacar as pessoas, roubar e provocar distúrbios…sente-se marginalizado, mas se sente na obrigação de matar, abusar, destruir, sem respeito pelo outro e pelo alheio. Porque não reclama os seus direitos procurando fazer algo de útil para a sociedade?

Não cola o argumento de que não há trabalho. Nem tampouco as desculpas de falta de ocupação durante dos tempos livres. se assim fosse, porquê vandalizar e destruir espaços criados para esse fim? Dizem não haver emprego, nem dinheiro…ora, nós todos sabemos que quando amanhece já tomaram 2 pingas (xagua rostu), antes de meio-dia já puseram 2 raios e pela tardinha já estão com um xipinaitis e estão prontos
para começar a azáfama. De onde veio esse dinheiro?

Não há trabalho. Certo. Mas se precisares de alguém para te consertar uma coisa simples, não há. Não há trabalho. Certo. Precisas de alguém para plantar umas mandioca, não há. Não há trabalho. Certo. Chega o tempo das azaguas, só há mulheres e crianças no campo. Enquanto isso, encontras grupos de rapazes sentados aos cachos, de passadeira até Veneza, mãos estendidas (isso para não falar de outras zonas!) Não há trabalho. Certo. Mangas amadurecem em Principal, papaias caem não há quem transportar para vender (as vezes mangas da segunda volta ficam a apodrecer). Não há trabalho. Certo. Mas precisas de alguém para trabalhar, para pagar, não há…e com as mais diversas desculpas: ainda não comi; hoje estou cansado
(de fazer o quê, eu pergunto!) kau sta mau, não tenho materiais para o trabalho, meu corpo não dá para isso, quero um trabalho com fim de mês, etc. e tal. Queixam-se, criticam, assediam de tal modo os que trabalham ao ponto às vezes as pessoas se sentirem culpadas.

Nunca se falou tanto de apoio aos jovens; nunca se falou tanto em medidas de prevenção à delinquência juvenil. É mais que notório o esforço dos governos central e locais no sentido de criar infraestruturas de lazer, espaços de entretenimento e formação…Há organismos que surgem dia a pós dia, com o intuito de ajudar os jovens. Mas a cada dia que passa temos mais e mais problemas com requintes de criminalidade dignos de sociedades altamente industrializadas, muitas vezes comparados aos crimes de CSI-Miami.

Mesmo sendo sensível e acreditando nas dificuldades que os nossos jovens possam ter, eu penso que na maioria dos casos, os jovens que se enveredam por essa via fazem-no por uma questão de escolha deliberada. Pode ser chocante, mas essa é a dura verdade que eu acabei de descobrir. Já falei com vários e mesmo após uma observação cuidada, foi a conclusão a que cheguei.

E fazem-no porquê? É mais fácil, mais conveniente e dá menos trabalho do que estar se a pensar no trabalho, pois trabalhar, dá trabalho e trabalho custa. E quem quer trabalhar? Quer-se sim, empregos, com salário no final do mês de preferência alto, com mínimo de esforço possível, com todas as condições imaginárias, sem chefe e sem exigências!

E fazem-no porquê? É mais fácil apropriar-se do alheio, igualar-se a todos sem zelo e usufruir de algo pelo qual não se esforçou e depois se vangloriar. 

E fazem-no porquê? Porque construímos uma sociedade consumista na qual se valoriza muito mais o TER do que o SER, não importa de onde este TER venha.

Porque se idolatra aquele que sabe ludibriar, passar perna e quanto mais capacidade de aldrabar se tem, mais esperto e inteligente se é considerado.

Mas, acredito que isto não se aplica a todos os jovens, mas sim a uma franja pequena da nossa juventude; contudo dado ao tamanho do estrago, parece abranger uma fatia muito maior. Acredito que ainda temos jovens que pautem por uma escolha

mais inteligente e que apesar dos desafios, insistem e persistem numa opção que dê primazia ao SER em detrimento do TER.

Para finalizar, queria parafrasear Caio Fernando Abreu, que disse:

“A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma
coisa fica para trás”.

Elsa Furtado

7 comentários:

  1. Concordo cam sua poblicação ó Elsa Furtado, é uma pena que hoje me dia a verdade é proibido dizer, acrédito que em cabo verde existe muitas formas de ganhar a vida con digindade sem entrar noutras vias que é menos aconcelhavel. Mas é uma pena ao falar mesmo com pessoas adultas sem falar da camada junventude sempre a dizer "cau mau" mas ninguem quer fazer algo para contornar o tal cau mau.Mencinaste algumas localidade e algumas potencialidade que dá prefeitamente para fazer algo que garante o emprego, mas existe no meu maneira de ver milhares, o que nos resta neste momento é trabalhar a mentalidade das pessoas para poder tirar o maximo de aproveitamento dos poucos recursos que o nosso concelho tem.Naso Miranda

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  2. Este artigo fez-me lembrar desta citacao: "Opportunity is missed by most people because it is dressed in overalls and looks like work." - Thomas A. Edison

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  3. A maioria das pessoas que comentam sobre delinquência juvenil em cabo verde nunca estudaram o fenómeno. É como a minha área jornalismo. Todo mundo acha que entende de jornalismo e no fim mandam bocas na base de amadorismo ou de ler em cartilha alheia. Não acredito que um jovem entre para a marginalidade ou criminalidade por escolha ou vontade própria. As causas disso tudo já foram ditos pelos estudiosos do fenómeno, falta agora atacar as causas que estão na origem disso tudo. Politicas públicas faltou neste teu artigo oh Elsa Furtado. Mas de qualquer forma parabenizo-te pela coragem de trazeres este tema para partilha na blogosfera. Já agora convido-lhe a visitar o meu blog: http://blogditu.blogspot.com
    Saudações...

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  4. Obrigada a todos pelos comentários. Não se trata de 1 estudo científico apenas reflexões pessoais, passíveis de ser contraditas. Apenas uma outra perspectiva da mesma realidade, o que não inviabiliza tudo aquilo que poderá ter sido dito ou escrito sobre o fenómeno.
    Aceito a sugestão e vou ler o seu blogue,Maria José Machado

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  5. Excelente artigo! A criminalidade precisa ser estudada e só assim as soluções serão encontradas!

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  6. Olá todos! Sabeis que, no fundo, a reflexão da Elsa é de todos que têm um discernimento sensato em relação aos "Ditos Tugs". Há quem diga que já perdemos o controle... e que as coisas vão piorar. Agora, a mim me preocupa as políticas e medidas para fazer face ao fenómeno! Eu sou um "Berdianu" que, se calhar, mais admira os "Berdianus". Nós temos a mania de que somos inteligentes e trabalhadores mas, se pensarem bem podem concluir que não é bem assim... eu sou da opinião de que a estabilidade\estado social de um povo é o reflexo da sua educação (...) Não tenho mais do que 30 anos mas, ainda lembro-me das pessoas dormirem com a porta aberta na Praia, e lembro-me do fenomeno "Netinhus di vóvó" ser controlado... Angola teve uma situação semelhante ao nosso (na verdade pior) mas erradicaram em tempo record, e, ouvi dizer que foi simples, aplicaram tolerância zero. Meus irmãos, temos que mentalizar que para enfrentar esse problema todos temos que fazer o papel de "polícia e tribunal"... é preciso medidas severas com esses delinquentes,não importa se é o nosso filho, irmão ou amigo! É preciso agir, não adianta férias como em "Hotel" de São Martinho... Abraço a todos!

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  7. Se me permitem, eu gostaria acrescentar mais palavras. É que o comentario da Maria Macedo é muito interessante... Oh Sr.ª Maria, desculpa lá mas, não é preciso ser Jornalista para ver se um Jornalista é bom...agora é claro que as pessoas que criticam nem sempre são melhores, afinal de contas não estudam Jornalismo, e como em qualquer área existem os Mediocres, os Bons e os Melhores. A propósito dos "Thugs" eu digo-lhe que a situação precisa de resolução, estudos é perda de tempo, o caso de Cabo Verde não é um caso a parte. Se apostarmos por fazer isso não vamos recolher resultados nenhum, até lá vão dizimar as pessoas que fazem este estudo, devemos é tomar medidas tal como outros fizeram (isso sim)... mais, e que tal se tentasse ir ao encontro desses jovens para fazer uma reportagem? Claro, como jornalista podia ser uma boa matéria, talvez um passo para se fazer estudo (...) Para terminar, não se esqueça que uma opinião é uma opinião... como a minha que mesmo podendo convergir com milhões, voçê, por exemplo, pode não concordar. Boa Sorte.

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